quinta-feira, 29 de maio de 2014

Actividade cultural - a Banda de Jazz



De uma esplêndida resenha histórica, de autoria de José Manuel Ferreira Luís, publicada no final de 1985 e de que aqui reproduzo os 'fac-similes', retirei alguns excertos relativos ao contributo cultural dado por meu pai, bem como à continuidade da semente que lançou.


(...)
"Incorformados com a pobreza da época, a falta de oportunidades para canalizar as suas energias e o desejo de progresso, um grupo de jovens arranhoenses liderados por José Munhoz Frade funda, em 18 de Maio de 1939, a Sociedade União Recreativa Arranhoense (S. U. R. A.).
Espelhando a ansiedade da juventude de então, são realizadas récitas e teatros de saudosa memória e, claro, alguns percalços... Numa ida aos Sabugos os nossos "artistas" não se saíram muito bem na representação e, não fosse o rápido abandono do palco, teriam levado uma valente tareia. Mas, apesar do insucesso, nem tudo foi mau pois conseguiram apurar 96$00 escudos.




Galvanizados pela dinâmica dos primeiros tempos da SURA, iniciam-se os estudos de solfejo em 1940 e, em 1942 estreia-se a trupe-jazz "Os Bem Entendidos de Arranhó" composta pelos seguintes elementos:
José Munhoz Frade - clarinete
Teófilo - trompete
Custódio Carreira Pinto - banjo, bandola
Manuel Assis -  banjo, trompete
António Raimundo - bandola
José d'Além - saxofone alto
José Pinto - jazzbandista
António Carreira - bandola
Benjamin - viola
Mário Martins - Mestre

Sobrava então em entusiasmo o mesmo que continuava a faltar em dinheiro. Por essa razão, cada qual comprou a sua farda. Aliás, nessa altura a Sociedade não tinha dinheiro nem para pagar a renda. A orquestra apresentava-se galhardamente fardada com fato, calça e casaco pretos, camisa branca e laço preto.
Utilizavam instrumentos de cordas como base, só vindo a adoptar instrumentos de sopro mais tarde. Fizeram um enorme sucesso, deixando na memória de todos, momentos de inesquecível emoção."


(...)
"Em Novembro de 1949 consegue-se juntar um lote de entusiastas no estudo do solfejo, sob a batuta do Mestre Mário Martins. No Verão de 1950, mais propriamente a 13 de Agosto, elegantemente fardados de casaco branco, calça castanha, camisa branca e gravata azul, saem para as ruas da terra:
Álvaro Assis Lourenço - saxofone alto
António Barros - trompete
Evaristo Jacinto Luís - clarinete
António Soares - saxofone tenor
José Rodrigues Gonsalves - saxofone soprano
Francisco Lourenço Pulga - bateria
Luís Raimundo Reis - bateria
Domingos Munhoz Frade - saxofone alto
Domingos Burra - trombone
José Raimundo Luís - trompete
Mário Martins - Mestre, saxofone alto e clarinete

Nos bailaricos tornam-se um êxito modinhas como a "Grande Marcha de 1950", o "Vira do Carnaval", o "Vira das Romarias", o "Papai Adão", a "Marcha de Arranhó" e muitas outras mais. Os Bem Entendidos de Arranhó levam a sua música a todo o lado. De Arruda dos Vinhos à Ajuda, à Malveira, à Louriceira de Cima e a Arranhó de Baixo. Todas grandes jornadas de sucesso. Mais uma vez a população rejubila com a sua música e não regateia aplausos.

A mobilização dos mancebos para a tropa e a saída para a capital, em busca de trabalho e uma vida melhor tornam impraticável a continuação da orquestra."


Após o 25 de Abril,
"O entusiasmo e a solidariedade são a prática diária. Arranca a construção do novo edifício-sede da SURA." (...) "É neste contexto que, em 1975, José Raimundo Luís, Domingos Munhoz Frade e Álvaro Assis Lourenço se juntam para tentar levar por diante um seu projecto - fazer reaparecer a orquestra Os Bem Entendidos e, desse modo, ajudar a Sociedade a seguir em frente com as obras. Vão convidar o seu antigo mestre, e grande amigo da terra, Mário Martins. Outros contactos são estabelecidos e a ideia ganha rapidamente forma. A pouco e pouco à velha sede da SURA vão chegando novas caras para aprender o solfejo e ensaiar.

O Carnaval de 1976 é a data escolhida para reaparecer em público depois de 23 anos de ausência. Desta vez a farda será um casaco azul, calça creme e camisa branca. Do programa, constava a concentração dos elementos da Orquestra e do povo junto da velha sede, seguida de desfile até ao novo edifício da Sociedade. A exemplo de outros tempos, irão percorrer as principais ruas de Arranhó, Ajuda, Quinta do Paço e Outão. À noite, seria o baile com:
bateria - Luís Raimundo Reis e Francisco Lourenço Pulga
saxofone alto - Domingos Munhoz Frade, Álvaro Assis Lourenço e Joaquim José Além
saxofone tenor e vocalista - António Raimundo Reis
saxofone soprano - José Rodrigues Gonsalves
trompetes - José Raimundo Luís e António Raimundo Lourenço
clarinete - Joaquim da Conceição Luís
órgão - António Raimundo Assis

Foi um sucesso total. A adesão da população foi exemplar. Marchas, passo-dobles e viras fazem pular novos e velhos. Voltam a ouvir-se a "Marcha de Arranhó", o "Vira das Romarias", a "Ceifeira e o Cavador". As lágrimas sobem aos olhos de muita gente.

A partir daí os principais bailes da Sociedade são abrilhantados pelos Bem Entendidos. A Comissão de Festas do S. Lourenço não dispensa a sua participação no programa. Novas músicas são apresentadas e são um sucesso - o "Soleado", o "Rapaz da Camisola Verde", etc.. São tocados clássicos como "Coimbra" e "Cheira Bem, Cheira a Lisboa" e bem assim como os êxitos nacionais e estrangeiros da ocasião. Novos elementos,
António José Além - viola eléctrica
José Manuel Pinto - viola eléctrica
Carlos Manuel Ferreira Rodrigues - clarinete
vêm dar o seu contributo à orquestra, ainda que nalguns casos por pouco tempo.
Fazem inúmeras saídas - Paço do Lumiar, Casal das Barbas, Casais de S. Quintino, Fetais, Pé-do-Monte, A-do-Basso, Camondes, A-dos-Eiros, Alcobela, A-dos-Arcos, Refugidos, Campolide, Aldeia Gavinha, etc, etc..

28 de Novembro de 1976. Para unir o movimento associativo arranhoense no desenvolvimento das actividades recreativas, desportivas e culturais na terra é realizada a fusão da Sociedade União Recreativa Arranhoense com o Clube Desportivo Arranhoense para nascer o actual União Recreativo e Desportivo de Arranhó. A orquestra prossegue a sua colaboração e vive dois momentos de particular emoção - a inauguração do novo edifício-sede e a formação de uma Escola de Música.

Apadrinhados pelos Bem Entendidos, estreiam-se no palco em 1982,
José Manuel Machado Frade - viola ritmo
Vítor Rodrigo Conceição Lourenço - bateria
José Carlos Carvalho Alves - saxofone tenor
Paulo Jorge Gonsalves Luís - viola ritmo
Arnaldo Raimundo Assis - órgão
Luís Filipe Val Pinto - viola baixo
António Manuel B. S. Encarnação - saxofone tenor
Lélio Raimundo Lourenço - trompete
José António Severino Lourenço - vocalista
que adoptam o nome de Conjunto Nova Geração e conquistam desde o primeiro momento a simpatia de todos.
Para a orquestra a continuidade está à vista e, face a um certo desencanto e saturação, resolvem optar por uma paragem na sua actividade. Passam apenas a sair para a rua uma vez por ano, a convite da Comissão de Festas, para fazer a procissão da noite nos festejos de Agosto em honra de S. Lourenço.
O Conjunto Nova Geração, esse confirma as expectativas, apresenta rapidamente enormes progressos, passando as suas apresentações em palco a constituir verdadeiros espectáculos de música jovem." 

1 comentário:

José Jorge Frade disse...

Veja-se o enquadramento histórico em http://www.academia.edu/1005584/O_associativismo_popular_na_resist%C3%AAncia_cultural_ao_salazarismo_a_Federa%C3%A7%C3%A3o_Portuguesa_das_Colectividades_de_Cultura_e_Recreio .